REVOLTA DE QUEIMADOS



A REVOLTA DE QUEIMADO

Queimado é um Distrito da Serra. Possui uma área de 77 quilômetros quadrados e fica a sudoeste. Já pertenceu a Vitória e Santa Leopoldina. Passou a Distrito, em 27 de julho de 1846, pela resolução nº 92, embora fosse apenas uma povoação.


Desde a resolução nº 4, de 26 de dezembro de 1889, já gozava de prerrogativas de Vila, mas só foi elevada em 11 de novembro de 1938. Possuiu sua primeira Escola Pública em ato Oficial de 12 de abril de 1847 e cuja inauguração foi a 24 de abril do mesmo ano. Teve uma Escola Feminina inaugurada em 4 de agosto de 1873. Foi palco de acontecimentos dramáticos em março de 1849, a Insurreição de Queimado, que foi uma revolta dos negros em busca de liberdade.

O nome vem do clima do lugar, uma região em que há muito calor com constantes queimas de mato.

REVOLTA DOS NEGROS

Em março de 1849, Queimado foi palco de uma Insurreição de negros escravos. As Insurreições ou revoltas de escravos eram comuns nas Vilas e Aldeias do Espírito Santo e do Brasil. Eugênio de Assis escreve num artigo publicado na Revista Capichaba, que em 1842 houve uma pequena revolta de escravos, sem maiores conseqüências na Serra. Sempre havia fugas de negros e quando o número de escravos fugitivo era maior, os Capitães do Mato, eram chamados para a caça aos fugitivos. Contudo a Insurreição do Queimado foi uma revolta que durou até a prisão de Elisiário, um dos líderes do Movimento, cinco dias depois do início da Insurreição, no dia 23 de março.

Frei Gregório José Maria de Bene, Missionário Capuchinho Italiano, que era Europeu e não admitia escravidão, estabeleceu uma estreita ligação com os escravos e esta ligação preocupava e contrariava os que usavam da mão de obra escrava para enriquecerem.

Frei Gregório levantou a bandeira da construção de uma grande Igreja na povoação de Queimado. Acabou por convocar os negros da região para a construção da obra, com a promessa de que posteriormente intercederia junto aos Senhores para que fosse dada a alforria de cada um dos negros que ali trabalhassem.

Existe a versão de que a atitude do padre foi "maliciosa e esperta" para com os negros. Mas, esta versão é falsa. Foi criada pelos Senhores da região. Na verdade, Frei Gregório, desejava realmente promover a liberdade dos escravos.

Citado como espertalhão, deve-se resgatar a memória do padre Frei Gregório, como verdadeiro defensor da liberdade dos escravos.

O historiador Wilson Lopes de Resende, em obra de 1949, com o título "A Insurreição de 1849 na Província do Espírito Santo", tece elogios ao Frei Gregório, relatando:

"Os escravos, ( ... ) aguardaram pacificamente outra oportunidade redentora ( ... ) quando apareceu na Freguesia do Queimado um Sacerdote, desses heróicos missionários catequistas que sempre se bateram contra a escravidão e a quem tanto deve o Brasil Colonial. Chamava-se ele Frei Gregório José Maria de Bene. Embora italiano, amou essa terra, que escolhe para missionar e, vendo a vida que levavam os escravos, num flagrante antagonismo com o espírito de liberdade, que sacudia as revoluções liberais do Brasil até a velha Europa, pensou em minorar-lhes os sofrimento. Passou, desde então, a auxiliá-los espiritualmente, incutindo-lhes os ensinamentos da religião, fazendo-os bons e humildes para imitar a Cristo. ( ... ) Animado com número tão elevado de fiéis, o Missionário resolveu erigir um Templo no meio de uma povoação de cinco mil almas. Os escravos não se cansavam de pedir em suas orações ao Todo Poderoso para que lhes enviasse suas bênçãos e lhes concedesse a graça de obter a alforria no dia em que a construção terminasse. Frei Gregório, certo da formação cristã dos Senhores vizinhos, chegou mesmo a admitir que os escravos pudessem conseguir o que tanto almejavam."

Pelo texto de 1949, de Wilson Lopes de Resende, observa-se que ele se refere ao Padre Gregório como um desses "heróicos missionários catequistas que sempre se bateram contra a escravidão."

Padre Gregório chegou inclusive a ser expulso do Espírito Santo em razão de sua participação a favor dos escravos. O único problema ocorrido é que os negros acabaram por radicalizarem e empunharem em armas, no que o Padre não concordou e acabou não mais apoiando o movimento dos escravos.

A pedra fundamental da Igreja foi lançada em 15 de agosto de 1845, quando na região, que incluía o Sítio Tapera, havia cerca de cinco mil "almas."

A FESTA DE SÃO JOSÉ

No dia 19 de Março, data em que a Igreja Católica comemora a Festa de São José, esposo de Maria, pais de Jesus, foi programada uma grande Missa, em 1849, com festa no Queimado.

Embora não estivesse completamente pronta, os negros consideravam a Igreja pronta, já que faltavam apenas alguns pequenos detalhes na construção da obra.

Para a Igreja e festa de São José, se dirigiram escravos de Jacaraípe, Una, Tramerim, Pedra da Cruz, chamados pelos líderes do Movimento de Liberdade.

Os líderes do Movimento foram:

1- Elisiário, escravo de Faustino Antônio Alvarenga Rangel.

2- Francisco, o Chico Prego, escravo da Senhora Ana Maria de São José;

3- João, escravo de Maria da Penha de Jesus, a viúva Monteiro;

4- João, o Pequeno, escravo de Rangel e Silva;

5- Carlos, escravo de João Clímaco de Alvarenga Rangel.

Historicamente, Elisiário foi o cabeça do movimento. Em reuniões com os seus companheiros, estabelecia as formas de ação do movimento, pois segundo o escritor Wilson Lopes de Resende, "procedia assim, iluminado pelo Missionário."

Elisiário foi o símbolo de uma raça sofrida e pelo seu heroísmo, procurou levar "os negros à glória da libertação.”

O escritor, José Paulino afirma que:

Elisiário era o "Caudilho Negro". A palavra "Caudilho" possui o significado de Grande Chefe Militar do Movimento Negro de Liberdade.

FALTA DE APOIO

Elisiário, João e Chico Prego pretendiam na hora da Missa, com o apoio do padre, exigir dos Senhores presentes que cada um assinasse a declaração tornando-os livres.

O padre estava rezando a Missa, quando a multidão de escravos, com ânimos exaltados, invadiu a Igreja aos gritos de Liberdade.

O templo viveu momentos de confusão e frei Gregório acabou por abandonar o altar, sem terminar a Missa fechando-se na sacristia da Igreja, sem qualquer comunicação com os escravos. Sabia que se apoiasse o movimento, a Insurreição se transformaria numa fagulha de um grande acontecimento, atraindo para si a ira dos Senhores, na Província e no Brasil. E, ele era estrangeiro, um Italiano.

Sem apoio do padre e aproveitando a grande concentração de negros, Elisiário, João e Chico Prego resolvem continuar com o Movimento, percorrendo as casas dos "senhores obrigando-os a assinar as declarações de Alforria."

Após conseguirem as declarações pretendiam com o apoio do frei Gregório, que desfrutava de amizade com D. Tereza Cristina, Imperatriz do Brasil, oficializar o documento.

Entendiam que quando chegassem até o padre com vários documentos assinados, o padre não iria se omitir e os ajudaria.

Um dos Senhores que foi obrigado a assinar um documento de alforria foi Paulo Coutinho Mascarenhas.

VIOLÊNCIA

O Presidente da Província, Antônio Joaquim de Siqueira, em carta datada de 20 de Março de 1849 e endereçada ao Ministro de Estado dos Negócios do Império, Visconde de Monte Alegre, relata o seguinte:

"Ontem pelas três horas, soube que um grupo armado de trinta e tantos escravos perpetrara o crime de Insurreição no Distrito de Queimado, três a quatro léguas distantes desta Capital, invadindo a Matriz, na ocasião em que se celebrava a Missa Conventual e levantando gritos de "Viva a Liberdade", queremos "Carta de Alforria". Este grupo seguiu depois a direção do Engenho Fundão, de Paulo Coutinho Mascarenhas, e aí obrigou-o a entregar-lhe os seus escravos e passar-lhe "Carta de Liberdade", as armas e munições que possuía, o mesmo fez em outros engenhos, de maneira que conseguiu elevar o seu número a cerca de Trezentos."

Existe a versão de que a Insurreição de Queimado foi um Movimento simples, pacífico e que não teria havido o referido "levante." Todavia o escritor Afonso Cláudio no livro "A Insurreição do Queimado", mostra que realmente houve uma revolta, uma Insurreição. Existiu confronto e feridos dos dois lados.

Uma das vítimas da Insurreição foi Francisco Roriz, ferido pelos negros com 17 caroços de chumbo, nas matas de Taiobaia.

Outra vítima foi o próprio comandante das Forças Policiais, Alferes Varella.

O Presidente da Província, cargo que hoje corresponde ao de Governador de Estado, de imediato mandou a Queimado o Chefe de Polícia, José Inácio Acioli de Vasconcellos, acompanhando de uma força policial de vinte praças da Companhia Fixa de Caçadores, que representava a Polícia da época. Comandando os Policiais, denominados "Forças Legalistas", o Alferes, José Cesário Varella de França.

Os legalistas chegaram ao Queimado no dia 20 de Março. Prenderam Frei Gregório e trataram de dar combate aos revoltosos, passando aos poucos a ter o domínio da situação.

AS MORTES

As notícias chegadas em Vitória eram de que os negros, além de estarem promovendo desordens, estavam bastante municiados e atirando em todos que se colocavam em seus caminhos.

Num dos combates, fica ferido o Comandante dos Policiais, José Varella. Tal fato irrita os Policiais e batedores do mato, que passam a matar todos os negros que encontravam no caminho, tomando-os como revoltosos.

Escravos encontrados na ladeira que desce para Aroaba, região perto do Queimado, foram todos mortos.

Ao final o Chefe de Polícia Accioli informa, no dia 23 de março de 1849, que conseguiu encontrar 11 escravos, entre os quais um dos líderes da Insurreição, Elisiário, escravo do fazendeiro Faustino Antônio de Alvarenga. A Insurreição que começou no dia 19, estava terminando com a prisão de Elisiário, cinco dias depois. Todavia havia ainda negros foragidos espalhados pela região, tendo a Polícia continuado as buscas por mais alguns dias.

PERSEGUIÇÃO

Preocupado, o Presidente da Província, Siqueira envia ao Queimado mais Policiais sob o Comando de Manoel Vieira da Vitória, ordenando ao Capitão Antônio das Neves Teixeira Pinto, Delegado da Vila da Serra, que passasse a perseguir os fugitivos.

Documentos esclarecem ainda que os habitantes do Queimado, Mangaraí e Serra auxiliaram as autoridades na captura dos negros.

Pela crueldade com que tratou os escravos negros, arrastando-os pelo chão por léguas e léguas, o Delegado da Vila da Serra, Capitão Antônio das Neves acabou recebendo elogios pela maneira como se conduzira.

O Governo Imperial, atendendo a solicitação feita, acabou mandando o vapor "Paquete do Sul" que, no dia 30 de março aportou em Vitória trazendo um reforço de 31 soldados comandados por um Oficial. Dias depois regressava o vapor à Corte, levando a notícia da vitória dos legalistas.

O escritor José Teixeira Leite informa que a caça aos negros foi "cruel e selvagem" e levada a efeito "por impiedosos batedores do mato." Esta informação consta da página 332, do livro "História do Estado do Espírito Santo - edição de 1975."

MILAGRE NA CADEIA

Os escravos presos foram recolhidos na Cadeia Pública de Vitória. Lá chegaram a passar fome, segundo relato do Carcereiro da Cadeia, Joaquim José dos Prazeres.

Manoel, escravo do Capitão Paulo Coutinho Mascarenhas morreu na Cadeia por estar gravemente ferido e em razão "dos horrores de uma viagem forçada desde o Queimado."

No dia 31 de maio de 1849 foi realizado o Julgamento dos escravos revoltosos, sob a presidência de José Inácio Acioli de Vasconcelos que além de Chefe de Polícia era o Juiz. A Acusação esteve a cargo de Manoel Morais Coutinho, promotor público e a defesa coube ao padre João Clímaco de Alvarenga Rangel. Como escrivão atuou no Julgamento, Manoel Gonçalves de Araújo.

Durante três dias o processo foi debatido e no final a sentença estabeleceu:

"Seis escravos foram absolvidos. Cinco condenados à morte e os demais, num total de 25, condenados a açoites."

No dia 7 de dezembro de 1849, cinco presos conseguiram fugir da prisão. O carcereiro de repente "foi acometido de um sono profundo, esquecendo aberta a porta da cela dos negros."

Na prisão não foi encontrado vestígio de arrombamento e logo, a fuga foi atribuída a milagre de Nossa Senhora da Penha, uma vez que segundo o escritor José Paulino:

"Havia três noites que Elisiário obrigava os companheiros de prisão a rezar."

Na terceira noite, quando rezavam à Nossa Senhora da Penha:

"A porta da prisão miraculosamente se abriu."

Na verdade o carcereiro Joaquim dos Prazeres ficou com pena dos negros e os soltou, tendo sido preso e confessado que soltara os negros pois eles estavam sendo maltratados e sofriam passando até fome na prisão.

Os fugitivos eram:

Eduardo Pinto de Vasconcelos; Manoel Matos; Elisiário; João, o Pequeno; Carlos, o escravo do Dr. João Clímaco.

Não consta terem sido recapturados os Negros fugitivos.

Elisiário fugiu para as Matas do Mestre Álvaro, onde tornou-se uma lenda para os negros que almejavam a liberdade, sendo cognominado o Zumbi da Serra, numa alusão ao herói Zumbi dos Palmares.

HERÓIS DA LIBERDADE

São participantes da Insurreição de Queimado, os seguintes Negros, verdadeiros heróis em busca de liberdade:

1- FRANCISCO, O CHICO PREGO. Escravo de Ana Maria de São José. Era um dos Chefe da Insurreição. Enquanto Elisiário destacava-se pela inteligência, Chico Prego, negro alto e forte, liderava pelo seu espírito de luta, por sua coragem. Foi preso e condenado à morte na forca.

Preso, Chico Prego foi levado para a Serra, viajando a pé, as seis léguas. Na Serra assistiu a construção do patíbulo. Na data e hora marcada, percorreu as principais ruas da Serra ao som de um tambor surdo e sinos da Igreja. O cortejo parava de momentos em momentos para que fosse lida a sentença. Defronte à forca, recebe a última unção religiosa. De mãos atadas sobe as escadas do patíbulo. O carrasco Ananias passa-lhe a corda em redor do pescoço e impele o negro para o espaço, fazendo pressão sobre os ombros para maior pressão da corda. Cinco minutos depois a corda é cortada. O corpo cai no chão e o negro ainda agoniza. O carrasco Ananias com um pedaço de pau, esmaga-lhe o crânio, os braços e as pernas.

O relato com detalhes da morte de Chico Prego, Herói da Liberdade na Serra, encontra-se na obra "A Insurreição de 1849 na Província do Espírito Santo", de Wilson Lopes de Resende, do Colégio Estadual "Muniz Freire", tese aprovada no IV Congresso de História Nacional. O livro é das Edições Itabira, Cachoeiro de Itapemirim, 1949, página 15 e 16.

Chico Prego foi executado na sede da Vila de Nossa Senhora da Conceição da Serra, no dia 11 de janeiro de 1850, "nas proximidades da Igreja, para servir de exemplo."

Sobre o local exato onde Chico Prego foi enforcado na Sede do Município, historiadores informam ter sido a pracinha, onde hoje, em 1997, está construída a Praça Ponto de Encontro.

Em recente reunião da Câmara Municipal da Serra realizada em 1996, foi aprovado o Projeto Cultural "Chico Prego".

O Projeto de Lei recebeu o n.º 028/95 e foi apresentado pela primeira vez na Câmara Municipal da Serra, por seu autor, Vereador Edvaldo C. Dias da Mata, no dia 11 de maio de 1995. O Projeto consiste na concessão de incentivo fiscal para a realização de Projetos Culturais nas áreas de Música, Dança, Teatro, Literatura, Cinema, Vídeo, Artes Plásticas, Folclore, Ciências Sociais, Museus e Associações Culturais, etc., sendo beneficiada pessoa física ou jurídica domiciliada no Município, no mínimo há dois anos.

Justificando o nome de Chico Prego dado ao Projeto, o então Vereador Edvaldo relata:

"... Daí nossa homenagem a "Chico Prego" - escravo refugiado do Quilombo de Queimado que na luta pela liberdade, desafiou a Igreja e os patrões quando exigiu o cumprimento da proposta de que ao final da construção da Igreja de São José do Queimado receberia a alforria - a proposta não foi cumprida, o que ocasionou uma rebelião iniciada na Serra e que culminou na prisão e morte de vários líderes, entre eles, "Chico Prego", que foi enforcado onde hoje está construída a Praça Ponto de Encontro, na sede do Município. Por esse exemplo de coragem e de luta, bem como pelo resgate da memória cultural e histórica do Município é que nosso projeto reconhece os escravos e especialmente "Chico Prego" como precursores da Cultura Serrana."

2- ELISIÁRIO. Foi um dos líderes da Insurreição. Escravo de Faustino Antônio Alvarenga Rangel. Destacava-se pela inteligência, já que Faustino Rangel lhe proporcionara a oportunidade de ler e aprender ofício de Carpinteiro. Estava sempre reunido com o Frei Gregório Maria Bene e dele recebia ensinamentos religiosos e ideais de liberdade, já que o Frei, Italiano de nascimento, era contra a escravidão.

Foi preso. Na cadeia liderava os negros, para que não se abatessem e rezassem sempre. Misteriosamente fugiu da cadeia de Vitória. Tornou-se uma lenda, pois, mesmo perseguido pelas autoridades policiais, não foi mais encontrado, passando a ser um herói entre os negros que almejavam a liberdade. A sua fuga foi cantada em prosa e versos como um "milagre de Nossa Senhora da Penha", já que não houve vestígios de arrombamento na porta da prisão e o carcereiro, ao ser preso após a fuga, admitira que fora tomado de "um sono profundo."

Segundo a escritora Maria Stella de Novaes, Elisiário "morreu isolado nas matas" e, segundo outros historiadores:

"Morreu feliz nas graças da Virgem Nossa Senhora da Penha, com um agrupamento de negros fugitivos, nas matas do Mestre Álvaro."

3- JOÃO MONTEIRO, O JOÃO DA VIÚVA. Escravo de Maria da Penha de Jesus, a viúva Monteiro. Foi também um dos líderes da Insurreição e condenado à pena de morte.

Consta que no Julgamento disse ser inocente, e que o culpado era o frei Gregório de Bene, que prometera liderar o movimento de liberdade e no momento mais importante, escondera-se dos negros.

Suas declarações são relatadas por carta pelo cônego Francisco Antunes Siqueira, advogado nos autos do processo, ao Presidente da Província, Felipe José Pereira Leal, em 10 de janeiro de 1850.

O escravo João da Viúva foi executado em Queimado, na forca, às 6 horas da manhã, do dia 8 de janeiro de 1850, três dias antes da execução de Chico Prego na sede da Vila da Serra.

4- Carlos, escravo do padre Dr. João Clímaco de Alvarenga Rangel. Foi preso e condenado a morte. Fugiu da prisão, junto com Elisiário, não sendo mais recapturado.

5- Cândido, escravo do Capitão José Monteiro Rodrigues Velho. Preso.

6- Cipriano, escravo de Joaquim José dos Santos. Foi executado, de "forma selvagem" na hora da prisão.

7- Venceslau. Negro que veio do sertão de Mangaraí. Preso.

8- Benedito, escravo de José Roriz de Freitas. Preso.

9- Joaquim, escravo de José Roriz de Freitas. Preso.

José Roriz de Freitas era parente de Francisco Roriz, que foi vítima de um disparo de 17 caroços de chumbo, desferido por um dos Negros revoltosos, comprovando-se a tese de que houve realmente uma Insurreição, uma revolta com tiros desferidos também pelos negros, havendo excessos de ambas as partes. Os negros alegando que se defendiam e as Forças Policiais legalistas alegando estarem cumprindo um dever cívico.

10- Sebastião, escravo de Faustino Antônio de Alvarenga. Foi preso, e seu corpo misteriosamente apareceu boiando nos fundos da casa de Domingos José de Freitas, em Vitória.

Segundo as autoridades o escravo fugiu, lançando-se ao mar e morreu afogado.

11- João, escravo do Capitão José Monteiro Rodrigues Velho.

12- João, o pequeno. escravo de Rangel e Silva. Foi um dos líderes da Insurreição e por isto condenado à forca.

Com Elisiário e Carlos, escravo de João Clímaco, conseguiu fugir da prisão, não constando ter sido mais encontrado.

Consta que Elisiário, Carlos e João, o pequeno formaram com outros escravos fugitivos, um núcleo de Negros que conseguia driblar as incursões dos batedores do mato que caçavam negros fugitivos.

Invocando sempre a proteção divina de Nossa Senhora da Penha tais negros nunca eram localizados.

13- João Francisco, velho escravo do padre João Clímaco. Com a Insurreição resolvera sair andando sem destino "sonhando com a liberdade." Não estava entre os revoltosos.

Foi morto ao ser encontrado por Policiais, no rio ( Córrego ) Aroaba, comprovando-se a tese de que os Policiais na perseguição aos revoltosos, começaram a atirar em todos os negros que surgissem, tivessem eles na Insurreição ou não.

14- Eduardo Pinto de Vasconcelos. Escravo que recebera nome de família do seu Senhor.

Foi condenado às Galés Perpétuas com trabalhos forçados, já que lhe fora atribuída, sem provas, a autoria dos tiros que atingiram alguns Policiais. Conseguiu fugir da prisão com Elisiário, João, o pequeno e Carlos. Não consta ter sido recapturado.

15- Manoel Matos. Escravo acusado, de disparar e ferir o Comandante Varela, no lugar conhecido por Ladeira de João dos Santos. Foi condenado às Gales Perpétuas com trabalho forçado. Conseguiu fugir da prisão com Elisiário, João, Carlos e Eduardo. Não consta ter sido recapturado.

EXPULSÃO DO PADRE

O advogado dos escravos revoltosos foi o padre João Clímaco de Alvarenga Rangel, que infelizmente nada pôde fazer para inocentar os escravos. O padre Clímaco, que possuía propriedade na Serra, teve alguns de seus escravos participando da rebelião, mesmo assim julgou justo defendê-los.

O frei Gregório Maria de Bene foi considerado o grande responsável pela Insurreição ocorrida, e, em documento datado de 26 de setembro de 1849, o Presidente da Província, Felipe José Pereira Leal, escreve que Frei Gregório é: "O único capaz de receber a imputação do crime. ( ... ) Amanhã regressam no vapor Guapiaçu o Frei Gregório Maria Bene e Frei Ubaldo de Civitella de Trento."

Na carta informa que a presença do frei Gregório, tinha sido nociva no Espírito Santo. Após a Insurreição, outras queixas surgiram contra o padre, levando o Presidente da Província a "mandá-lo embora."

Os ideais de liberdade pregados pelo frei não foram bem recebidos pelos exploradores da mão de obra escrava, que aproveitaram para reunir todas queixas possíveis contra o mesmo, com a finalidade de "expulsá-lo do Espírito Santo."

Frei Gregório acabou indo para a região do Amazonas, onde de 1850 a 1854, evangelizou em vários núcleos urbanos e Vilas.

Em 1854 deixou os serviços missionários e passou a morar em Manaus, conforme o historiador Artur César Ferreira Reis em pesquisa para o escritor José Teixeira de Oliveira.

NOTAS:

1- O Jornal "Correio Popular" da cidade de Cariacica - ES, de 29 de março a 4 de abril de 1991, na página 7, publica a seguinte matéria da Prefeitura Municipal da Serra: "SERRA - Raízes e Riquezas Culturais - QUEIMADOS.

A Insurreição de Queimados foi uma rebelião escrava ocorrida em São José de Queimados, em 1894.

Frei Gregório de Bene, Italiano, era encarregado da instrução da população local. Em seus sermões, condenava a escravidão e o tratamento desumano recebido pelos escravos. Entre suas missões, havia a construção de uma Igreja na região, só que lhe faltavam recursos.

Assumiu, junto aos escravos, os compromissos de libertá-los das mãos de seus senhores no dia da inauguração da Igreja, mas, para inaugurá-la, precisava da ajuda dos escravos. Os negros trabalharam em horas de folga e durante a madrugada.

Na inauguração, porém, a promessa não foi cumprida, causando a revolta dos escravos. Os rebeldes se refugiaram no mato, sendo alguns capturados e outros desaparecidos, supostamente mortos de fome. Era o fim da Insurreição de Queimados. Ajude preservar nossa história."

O texto apresenta os seguintes erros:

a) O ano está errado. Não é 1894. O ano é 1849.

b) A palavra não é QUEIMADOS e sim QUEIMADO sem a letra "S". O mesmo texto errado foi publicado em outros jornais.

2- O Guia de Informações Turísticas publicado em 1983, cujo título é "Venha Conhecer as belezas entre as Montanhas e o mar - Serra - Espírito Santo - BR", na parte relativa aos "Atrativos Culturais", diz o seguinte:

"Igreja dos Escravos da Lampadosa - Ruínas localizadas no distrito de Queimados. Região onde viveram os escravos vindos da África. Palco de acontecimentos dramáticos em março de 1849 - A Insurreição de Queimados.

Recomenda-se a visitação, por ter sido monumento construído com o emprego de mão-de-obra escrava e por se tratar de ruínas de um templo construído após os primeiros anos da Colonização do Solo Espirito-Santense."

No texto destaca-se:

a) Escravos da Lampadosa - Esta expressão refere-se a Igreja construída com trabalho escravo.

b) A palavra Queimado está erradamente escrita com a letra "S" no final.

c) O Templo não foi construído nos primeiros anos da Colonização do Solo Espirito-Santense e sim em 1849, ou seja há 314 anos após a colonização do Solo Espírito-Santense, que foi a 23 de maio


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